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31 de agosto de 2025

Como participar da Missa com crianças?

Cuidar é um ato de fé

Muitos pais levam os bebezinhos à Igreja. Eles são belos, quietinhos, dormem a maior parte do tempo. Mas assim que começam a crescer, engatinhar, aprender a andar e a correr, muitos pais acabam desistindo. Argumentam que dá muito trabalho, pois as crianças não querem ficar paradas, gastando muito tempo da Missa por andarem de um lado para outro, então, sentem-se tentados a concluir que não estão, realmente, participando da celebração.

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Ao perceber que a criança está muito irrequieta, é aconselhável convidá-la e sair para escutar a celebração do lado de fora (no hall, por exemplo). Com crianças muito pequenas, fica mais difícil mantê-las em silêncio por muito tempo: é preferível sair um pouco da Igreja e ir para onde as crianças não irão atrapalhar os outros. Brinquedos e aparelhos como celular, smartphone, tablets devem ser evitados. Uma sugestão é levar livros e lápis de cor para pintar ou deixá-las folhear algum livro ilustrado sobre a vida de Jesus.

A Missa é para todos

Em algumas comunidades, há uma prática de separar as crianças na hora da Missa e levá-las para um lugar à parte, onde são cuidadas por voluntários que cantam, rezam, brincam, evangelizando-as. Dessa maneira, acredita-se que os pais podem participar melhor da Missa. Certamente, a intenção de promover iniciativas como essa é boa, porém, corre-se o risco de criar uma ideia de que Missa não é coisa para criança.


Família na Missa

A Missa é para todos, inclusive para crianças. Outros pais ficam o tempo todo pedindo para os filhos fazer silêncio porque querem se concentrar. Devemos sempre nos lembrar de que a Missa do domingo com a família é um momento de oração comunitária, familiar. Além desse momento de celebração comunitária, devemos buscar outras oportunidades de oração pessoal, talvez durante a semana, oportunidades para rezar a sós, cultivando nossa relação pessoal com Deus.

A Exortação Apostólica Amoris Laetitia orienta que as pessoas que "têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito".

Texto extraído do livro "Como participar da Missa com crianças?", de Rodrigo Luiz e Adelita Stoebel.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/como-participar-da-missa-com-criancas/

30 de agosto de 2025

A importância do diálogo para a construção de uma sociedade justa

Há a necessidade do diálogo para a construção de uma sociedade justa

Fala com autoridade é a óbvia constatação daqueles que, na sinagoga de Cafarnaum, ouviam o ensinamento de Jesus. Um ensinamento novo, partilhado com autoridade, que impacta e desperta admiração. Atualmente, há carência das falas com autoridade que sejam bem diferentes daquelas tão comuns, eivadas de ideologizações que aumentam os riscos de polarizações fratricidas e, consequentemente, capazes de atravancar os necessários avanços sociais.

Créditos: starfotograf by Getty Images.

São urgentes falas com autoridade neste tempo em que vozes se espalham com "velocidade da luz" pelas redes sociais. Convive-se com falas sem consistente fundamentação e, por isso mesmo, incapazes de ajudar na resolução de problemas ou na promoção do diálogo. E o diálogo é instrumento indispensável na efetivação e promoção da democracia, do respeito a direitos e na construção de uma sociedade igualitária, solidária.

Das instituições pilares da democracia, a sociedade espera a disponibilidade para a construção de um entendimento, respeitando a independência de suas identidades, sem o risco de obscurecer consciências em razão da perversão de seus integrantes. Constata-se que muitos seguem na contramão do entendimento, por causa da disputa de poder entre poderes, no horizonte perigoso da partidarização com ideologizações perniciosas.

O cinismo que pode obscurecer consciências com falsas promessas

As fragilidades consequentes decorrem da falta de diálogo em alto nível, fundamento para efetivar procedimentos que fortaleçam o Estado e favoreçam o bem da Nação. Não se pode destruir o Direito pela força corrosiva da perversão daqueles que exercem o poder. As instituições religiosas, educativas e culturais estão desafiadas a entrar em cena, com uma palavra de lucidez, para ajudar a sociedade a não deixar que polarizações se tornem a voz dominante.

É preciso promover a essencial harmonia que fundamenta a adequada construção cultural e sociopolítica da sociedade, tarefa árdua que requer diálogo. Vai ficando tarde para essa movimentação quando se pensa que já se aproxima o ano eleitoral. Sabe-se do desafio enorme para não se dar soberania à mentira ou cegamente envolver-se nas disputas político-partidárias.

Muito bem comentou, em tom de advertência, o Papa Bento XVI, sobre o cinismo da ideologia que pode obscurecer consciências com promessas. Assim, justificar o uso dos meios considerados como adequados para alcançar o que foi prometido, permitindo-se abolir a noção de direito e mesmo a distinção entre bem e mal.

O dever dos líderes na política em estabelecer um diálogo mais tolerante e fiel aos valores morais

Escolhas políticas precisam ser assentadas em valores morais que não podem ser relativizados. A fidelidade a esses valores é que garante credibilidade a homens e mulheres, capacitando-os a falar com autoridade, iluminados por um horizonte largo, humanista.

A sociedade brasileira carece de líderes políticos capazes de falar com autoridade e, assim, protagonizar ações com importante incidência no tecido social, cultural, à altura dos valores e das riquezas inscritas na história do Brasil.

Ora, a autoridade política, ensina a Doutrina Social da Igreja Católica, é o instrumento de coordenação e direção mediante o qual se tem a força para aglutinar indivíduos, instituições e procedimentos a serviço do crescimento integral. Esta autoridade é bem exercida dentro dos parâmetros da ordem moral, seja na comunidade como um todo, seja nos órgãos representativos do Estado.

Importa reconhecer que líderes na política devem cultivar especial respeito à ordem moral, capacitando-se para falar com autoridade e, assim, ir além de subjetivismos partidários, para construir novos entendimentos.

É verdade que a construção de uma sociedade não se opera sem alianças, mas isso não significa dar lugar às barganhas, à mesquinhez, aos interesses pouco republicanos, distanciando-se de princípios morais. Entendimentos devem ser construídos a partir de palavras capazes de inspirar disponibilidade de cooperação e o compromisso cidadão.

A história da humanidade reúne períodos difíceis e intrincados, mas que foram vencidos com o auxílio de lideranças que falam com autoridade, distantes da mediocridade. Líderes que fortalecem suas instituições por se dedicarem à promoção do diálogo e da cooperação capazes de tecer nova cultura, inaugurando novos ciclos sociais.

Essa capacidade humana de superar momentos desafiadores deve motivar a busca pela superação das crises deste tempo, de maneira republicana e solidária, longe de rancores e disputas. A sociedade brasileira precisa urgentemente de pessoas capazes de inspirar o diálogo que vai além das disputas por "cargos" e "cadeiras".


A hora pede, em lugar de polarizações e desserviços, um empenho construtivo de todos para se conseguir a sabedoria de fazer das diferenças uma riqueza

Cada cidadão é chamado a contribuir para promover lógicas e novos hábitos capazes de garantir o cuidado com o meio ambiente – a casa comum – e a efetivação de políticas públicas inclusivas, expressando efetivo zelo por uma ordem sociopolítica mais participativa e justa.

É hora de pensar o Brasil a partir de suas riquezas e potencialidades, longe de interesses meramente partidários ou de deliberações que busquem favorecer privilegiados. Diante da exigência de se construir uma sábia atitude patriótica no cuidado com o Brasil torna-se oportuno retomar a recomendação de Mário de Andrade, em uma carta endereçada a Carlos Drummond de Andrade: "Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo. Apesar de todo o ceticismo, apesar de todo pessimismo (…) seja ingênuo, seja bobo, mas acredite que um sacrifício é lindo (…).

Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que, por isso, até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade (…) é no Brasil que me acontece viver, e agora só no Brasil eu penso…". Eis um modo de pensar e uma disponibilidade para agir que fundamentam falas com autoridade.


 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/importancia-dialogo-para-construcao-de-uma-sociedade-justa/

29 de agosto de 2025

No ato de servir, encontramos a felicidade

Para encontrar a felicidade, comece praticando um dom e oferecendo-o gratuitamente a quem está próximo de você

O ato de servir é praticamente inerente a todo ser humano. É notável como o serviço tem sido necessário para os avanços da humanidade através dos séculos. Em princípio, tudo o que se faz, constrói, pesquisa ou inventa tem por finalidade melhorar a vida no nosso planeta. Não se pode negar que esse empreendedorismo rende benefícios individuais, como prestígio, compensação financeira, satisfação pessoal com o aprendizado ou com sua aplicabilidade. No entanto, vale a pena mencionar que nem todos os propósitos são honrosos.

O mosaico do coração, reunindo os fragmentos da vida

Crédito: troyka / GettyImages

Dentro das dimensões do trabalho, existe também a face do servir com gratuidade. O serviço voluntário implica fazer algo para outra pessoa sem esperar uma gratificação como forma de pagamento. Há quem, em atitude magnânima, seja capaz de servir ciente de que não receberá sequer um "muito obrigado". Aquele que, livre e espontaneamente, se torna voluntário na execução de determinado trabalho, pelo simples propósito de fazer o bem, liberta o favorecido de qualquer forma de retribuição. Há quem acredite que esse desprendimento seja uma insanidade por ser totalmente avesso à inclinação que temos em buscar os meios para a própria sobrevivência.

Quando nos fazemos servos dos outros, enchemos nosso coração com o sentimento da alegria. Aquele que está disposto a trabalhar, sem visar recompensas, tem apenas a pura alegria de proporcionar bem-estar ao próximo, sem um acréscimo a sua pessoa. É um júbilo espiritual.


Nossa Senhora demonstra a alegria de ser serva quando vai ajudar a prima Isabel e canta esse sentimento ao encontrá-la: "Minha alma glorifica o Senhor, e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador, porque Ele olhou para sua pobre serva" (Lucas 1,46-48).

Mais tarde, Jesus faz do servir desinteressado um princípio cristão: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos" (Mateus 20,28).

Para não nos atermos somente aos grandes propósitos, mas também àqueles "pequenos grandes gestos", temos no Evangelho de Lucas: "Mas quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz, porque eles não tem com que te retribuir" (Lucas 14,13-14).

A alegria de servir

Existe nessas citações bíblicas um princípio eterno, que liga o efeito da alegria à ação de servir. Esse sentimento tão prazeroso acontece também pelo serviço. Portanto, podemos buscar sempre mais preencher nossa vida com o belo sentimento da felicidade que proporcionamos aos outros, sem que estes nos tenham pedido e sem que esperemos nada em troca.

Jesus, o Mestre, com Sua Mãe, a Santíssima Virgem Maria, querem nos indicar, com isso, que a verdadeira alegria está dentro de nós e vem à tona quando deixamos aflorar todo o amor que podemos proporcionar aos que Deus põe em nosso caminho.

A recompensa maior, certamente, está no céu, mas pode ser desfrutada já aqui neste mundo. Para encontrar a felicidade, comece praticando um dom e oferecendo-o gratuitamente a quem está próximo de você. Necessidades e circunstâncias por aí não vão faltar, é só ficar atento, pois o Altíssimo quer fazê-lo feliz!

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/no-ato-de-servir-encontramos-a-felicidade/

27 de agosto de 2025

Como identificar a vocação sacerdotal e religiosa?

Ser todo de Deus

Jesus chamou para apóstolos "aqueles que Ele quis" depois de passar a noite em oração. A Igreja viu nisso o chamado ao sacerdócio e também às outras formas de vida religiosa. É Jesus quem chama o jovem à vida sacerdotal, o que não é fácil. A vida religiosa exige muitas renúncias para ser "todo de Deus", estar a serviço do Seu Reino para a edificação da Igreja e a salvação das almas.

Créditos: Yandry Fernandez / GettyImagens

A palavra "vocação" vem do latim vocare, que quer dizer "chamar". Deus põe, no coração do jovem, esse desejo de servi-Lo radicalmente, indiviso, full time, em tempo integral, sem divisão.

Sinais indicativos da vocação:

Para discernir esse chamado divino, o jovem precisa, sem dúvida, de um bom orientador espiritual, um padre ou um leigo experiente para ajudá-lo. Penso que alguns sinais indicativos da  vocação de um jovem ao sacerdócio ou à vida religiosa sejam esses:

1 – Ter vontade de entregar a vida totalmente a Deus sem guardar nada para si; ser como Jesus, totalmente disponível ao Reino de Deus. Ser um outro Cristo – alter Christus. Abraçar o celibato com gosto, oferecendo a Deus a renúncia de não ter esposa, filhos, netos, vontade própria etc. É um casamento com Jesus. Ele disse que receberá o cêntuplo nesta vida, e a vida eterna depois que deixar tudo por causa d'Ele e do Seu Reino.

Jesus disse que as raposas têm seus ninhos, mas que Ele não tinha nem mesmo onde reclinar a cabeça. Isso é sinal de uma vida despojada de tudo. Nada era d'Ele, nem a gruta onde nasceu, nem o burrinho que O levou a Jerusalém. O barco de onde pregava e viajava, o manto que os soldados sortearam também não eram d'Ele. Nem a casa onde vivia em Cafarnaum pertencia ao Senhor. Tudo Lhe foi emprestado. Cristo era despojado de tudo; a Ele só pertencia a cruz.


A vocação religiosa exige entrega total

Dom Bosco disse que não pode haver graça maior para uma família do que ter um filho sacerdote. É verdade. O padre faz o que os anjos não podem fazer: perdoar os pecados, realizar o milagre da Eucaristia, tornar presente o Calvário em cada Missa para a salvação do mundo.

2 – A vocação religiosa exige que o candidato tenha o desejo de trabalhar como Jesus pela salvação das almas, sem pensar em um projeto para a sua vida. Exige entrega total nas mãos de Deus, desejo de viver mergulhado no Senhor. Tem de gostar de rezar, de estar com Deus, de meditar Sua Palavra e participar da liturgia, pois sem isso não se sustenta uma vocação sacerdotal.

O demônio tem muitas razões para tentar um sacerdote ou um religioso, pois este lhe arrebata as almas. Então, o religioso consagrado tem de viver uma vida de extrema vigilância, muita oração e mortificação, como disse Jesus.

Buscar permanentemente a santidade

3 – Amar a Igreja de todo o coração, tê-la como Mãe e Mestra, ser submisso aos ensinamentos do seu Magistério. Ser fiel à Igreja e a seus pastores, nunca ensinando algo que não esteja de acordo com o Sagrado Magistério da Igreja. Viver o que diziam o Santos Padres: sentire cum Ecclesia. Amar o Papa, os bispos, Nossa Senhora, os anjos e santos, os sacramentos, a liturgia e tudo o que faz parte da nossa fé católica. Amar a Bíblia e gostar de meditá-la todos os dias. Desejar estudar Teologia, Filosofia e tudo o mais que o Magistério Sagrado da Igreja nos recomenda e ensina. Gostar de fazer meditações, retiros espirituais e uma busca permanente de santidade. Almejar, como disse São Paulo, atingir a estatura adulta de Cristo; ser um bom pastor para as ovelhas.

4 – Desejar viver uma vida de penitência, na simplicidade, na pobreza evangélica, na obediência irrestrita aos superiores, aberto a todos por um diálogo franco. Ser tudo para todos. Estar disposto a obedecer sempre o seu bispo ou seu superior a vida toda, qualquer que seja a decisão dele sobre você.

5 – Estar disposto a dar até a vida pela Igreja, pelas almas e por Jesus Cristo.

Talvez, eu tenha sido um pouco exigente, mas para aquele que deseja ser um "sacerdote do Deus Altíssimo", creio que não se pode pedir menos do que isso. Quem opta pela vida sacerdotal deve se entregar de corpo e alma a ela; não pode ser mais ou menos sacerdote ou religioso. Seria uma frustração para a pessoa e para Deus. É melhor ser um bom leigo do que um mal religioso.

 



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/sacerdocio/como-identificar-a-vocacao-sacerdotal-e-religiosa/

26 de agosto de 2025

Qual a diferença entre freira, irmã e madre?

Chamadas a servir

Há vários termos para identificar a vida religiosa e diferenciar as funções de cada religioso e religiosa. Para a vida religiosa feminina, há três nomes: freira, irmã e madre.

Freira é o feminino de frei, que vem do latim frater, que significa "irmão"; portanto, freira é o mesmo que irmã. Podemos usar um ou outro para a mesma mulher consagrada.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A freira ou irmã pertence a uma congregação ou ordem religiosa e professa os votos de castidade, pobreza e obediência. Vivendo vida fraterna em comunidade, dedica-se à oração e ao serviço aos irmãos, de acordo com o carisma e a missão de sua congregação ou instituto religioso.

"Madre", do latim mater, em português significa "mãe". Madre é o título dado à irmã religiosa coordenadora de uma comunidade de irmãs ou de uma ordem ou congregação religiosa. Sua missão é cuidar de suas irmãs, principalmente para manter a fidelidade ao carisma e missão da congregação.

Como uma jovem se torna uma freira?

O tempo para uma jovem entrar no convento, mosteiro etc. varia de uma congregação para outra. Há famílias religiosas que determinam um tempo de dois anos de acompanhamento, outras de um ano, o que depende do processo humano, espiritual e vocacional de cada uma.

Esse acompanhamento vocacional é para ajudar a jovem a discernir bem o que Deus quer para ela. O que nem sempre é fácil! Para isso, são feitas conversas com o diretor espiritual e vocacional, retiros e conhecimento da vida religiosa em várias congregações.


Antes de uma jovem se tornar freira (ou irmã) em uma comunidade religiosa, é preciso que ela tenha claro o chamado de Deus para essa vocação. São Paulo diz que "os dons e os chamados de Deus (vocação) são irrevogáveis" (Rom 11,29). Deus chama para sempre. Esse chamado é uma expressão do amor de Deus para essa jovem. É uma vocação voltada para os outros, um desejo de dividir a vida com outras pessoas, com humildade, seguindo Cristo, que nos ensinou com Sua vida o que é amar.

A freira é uma pessoa que, ao deixar sua casa, seus pais e irmãos, vive para Deus e para os irmãos. Mas isso não quer dizer que ela perde as suas origens e o cuidado com os pais.

Testemunho

Tenho gratas recordações, por exemplo, das irmãs salesianas que serviam no Asilo São José, em Lorena, que ficava bem ao lado de nossa casa. Eu era pequeno, mas já admirava, profundamente, o carinho com que aquelas irmãs cuidavam dos velhinhos, levando-os em cadeiras de rodas para a Missa, que eu ajudava como coroinha. Da mesma forma, eu amava muito essas mesmas irmãs salesianas que eram responsáveis pela Santa Casa de Misericórdia de Lorena, e que também, com muito carinho, com aquele hábito todo branco, cuidavam dos doentes.

Esses exemplos pessoais me brotam do coração todas as vezes que penso nessas freiras, que deixaram o mundo para servir totalmente a Deus. Quando a idade vai avançando e as limitações físicas chegam, muitas delas têm de se recolher às Casas dos idosos da Congregação, pois já não têm mais saúde para o trabalho externo. Continuam, no entanto, sua missão de salvar as almas, oferecendo ao Senhor os seus sofrimentos e as suas constantes orações.

Podemos servir a Deus trabalhando por Seu Reino, e também rezando e sofrendo. Para essas religiosas, cada dia que passa deve o coração se expandir e aprender a amar sem limites.

Hábito religioso

Elas usam o hábito religioso, um sinal para o mundo da consagração da religiosa (Compendio Vaticano II – Perfectae Caritatis art. 17). É sinal de que essas mulheres são escolhidas, consagradas e reservados a Deus, e lembra, mesmo a pessoa que o usa, que ela representa sua congregação e por ele é identificada.

Algumas Congregações e Ordens Religiosas conservam o seu uso, segundo as orientações de seu fundador e de suas Constituições. As vestes devem ser simples, modestas e de acordo com as condições de saúde, de tempo e lugar. O profissional da saúde usa o branco para se identificar, o militar usa a farda, o religioso usa a veste de consagrado. Sinal de pertença a Cristo. O hábito religioso delas lembra aos que os vêm a existência de Deus. É um sinal e um testemunho público da condição de consagrados e de pessoas que estão à serviço da comunidade, como servidores e missionários do Reino de Deus.

As freiras não são religiosas porque usam o hábito, mas usam o hábito porque são religiosas.

Clausura

Há freiras e irmãs que vivem a vida monástica; as contemplativas, que vivem no claustro, numa vida reclusa, sem contato com o mundo exterior nem com as pessoas. Identificam-se com Jesus Cristo em oração sobre o monte e com o seu mistério pascal. A clausura é uma maneira especial de "estar com o Senhor", e de partilhar o aniquilamento, numa vida de renúncia radical não só às coisas, do prazer e do mundo.

As que vivem nos mosteiros são chamadas de monjas, vivem afastadas do mundo, mas não alienadas do mundo. O tempo todo essas almas contemplativas elevam a Deus uma prece pelos que sofrem.

Santa Elisabete da Trindade, carmelita descalça, escreveu a uma amiga: "Creia-me: por trás das grades do Carmelo tem um pequeno coração que lhe reserva uma lembrança tão fiel, uma alma totalmente unida à sua e que sente pela senhora um profundo afeto".

Uma carmelita disse que a vida em clausura é estar aos pés do divino Mestre velando em oração. Essas monjas de clausura são como Moisés na batalha contra os amalecitas (Ex 17,8ss) que, com os braços erguidos, intercedem para a salvação do mundo.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/qual-a-diferenca-entre-freira-irma-e-madre/

23 de agosto de 2025

Coração de Pai

A reflexão da importância da figura paterna através de São José

A figura paterna conta muito na estruturação do caráter e da personalidade do ser humano e a carência de paternidade pode explicar o desgoverno existencial que aflige tantas pessoas, com desdobramentos para a vida em sociedade. Em um mundo carente de paternidade, oportunidades para se avançar, qualitativamente, no viver humano, são perdidas. Merece, pois, na oportunidade oferecida pelo segundo domingo de agosto, Dia dos Pais, refletir sobre a importância da figura paterna à luz do exemplo de São José.

Créditos: piccerella by GettyImages / cancaonova.com

O mundo precisa do "Coração de pai", expressão que é título da Carta Apostólica do Papa Francisco, apresentada em 2020, no sesquicentenário da Declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja. Contemplar a vida de São José, inspiração para os pais, contribui para que este mundo supere a sua carência de paternidade – uma sociedade desnutrida da figura paterna convive com estreitamentos de horizontes humanísticos que aprisionam o ser humano na força ilusória do dinheiro, da fama, dos títulos.

Contemplar o modo como São José exerce a paternidade – ele é pai adotivo de Jesus, educador da casa de Nazaré ao lado de Maria – possibilita iluminar a ação de graças pelo Dia dos Pais com nobres lições. Aprendidas, essas lições capacitam homens e mulheres a adequadamente exercerem suas responsabilidades. Cada pai deve ser referência na vida de seus filhos, ajudando a consolidar valores e posturas que alcançam o mais completo e nobre sentido do viver humano.

A vida de São José tem força para inspirar correções diante de destemperos sociais e institucionais

A exemplo de São José, os pais são chamados a compreender a própria vida como dom, dedicando-a ao compromisso sociopolítico e espiritual de qualificar a sociedade. Incontestável, pois, é a urgência contemporânea de se aprender a ser pai, de resgatar a figura paterna modelar no mais profundo da consciência e da vivência. Esse resgate ajuda a superar destemperos pessoais e institucionais que também são fruto de mediocridades e da mesquinhez. A vida de São José tem força para inspirar correções. Fala-se resumidamente de São José nos evangelhos, com relevos postos pelos evangelistas Mateus e Lucas, delineando o suficiente para se compreender a exemplaridade do Padroeiro da Igreja no exercício da paternidade e a importância de sua missão.

São José é insigne protetor, como testemunha Santa Teresa D'Ávila, ao dizer que dele recebia tudo de que precisava. Para Santa Teresa, suas obras foram sempre exitosas, material e espiritualmente, graças à ajuda recebida do Padroeiro Universal da Igreja.

São José é, especialmente, uma escola sobre o exercício da paternidade. Ao assumir a condição de pai adotivo de Jesus, o fez em obediência amorosa a Deus, Pai do Salvador. São José, assim, compreendeu que sua missão vai muito além de ocupar um lugar ou de oferecer cuidados materiais. A sua paternidade foi emoldurada pela transcendência, que lhe possibilitou a singular compreensão sobre a missão do próprio Cristo, o Menino Jesus.

Missão infinitamente maior que a tradição judaica de se aprender a profissão do pai. Assim, José foi além do ensino das habilidades essenciais à carpintaria de Nazaré. Homem de presença cotidiana discreta, torna-se protagonista na história da salvação, pai amado que se coloca inteiramente a serviço do crescimento, em graça e sabedoria, do filho de Deus.

O amor de São José, assim, transluz o olhar de Jesus: o carpinteiro dedica a sua vida, integralmente, ao cuidado da Sagrada Família. Sua atitude desdobra-se em princípio e lição que precisa ser sempre, e cada vez mais, testemunhada, aprendida. José ensinou Jesus a andar segurando-o pela mão, infundindo confiança pela proximidade e ternura.

Importa, pois, perceber, a força da ternura, forma de enfrentar a fragilidade humana, sem idealismos narcísicos desnorteadores que conduzem a ilusões perigosas no âmbito do poder. A ternura suplanta a obra do maligno, é caminho para encontrar a misericórdia de Deus e tornar-se capaz de ser instrumento da reconciliação.


Paternidade que acolhe, ensina e inspira coragem para transformar vidas

Contemplando o exemplo de São José, é possível reconhecer: a paternidade possibilita a experiência da acolhida, do abraço, do amparo e do perdão, pela infusão de uma coragem que debela o medo paralisante, incapacitante para o diálogo. A figura paterna ajuda o ser humano a compreender a importância determinante da obediência – fruto da escuta que permite enxergar para além dos limites da própria visão.

Uma obediência que vence a angústia de não compreender desígnios, por vezes alimentada pelas ilusões dos próprios cálculos e limites humanos. O exercício exemplar da paternidade revela-se em São José, com sua paciência e confiança em Deus, tornando-o vitorioso diante das muitas vicissitudes e percalços, com o desenvolvimento da resiliência e tenacidade, mesmo quando teve que percorrer longas distâncias, deixar a sua pátria, como ocorreu na fuga para o Egito.

Seu respeito às prescrições da Lei modela a aprendizagem de Jesus, constituindo uma escola domiciliar. Essa escola contribui para que José transmita a sua resiliência ao filho – sem escorregar na direção de soluções fáceis, covardes e desonestas. Constitui para o filho a mais importante herança: o valor do acolhimento, pela nobreza da oração e de tudo subordinar à caridade, lei maior e inegociável.

No lastro da caridade de São José, o brilho de sua atitude respeitosa à mulher, sem violências físicas, verbais ou psicológicas. Mesmo nas situações em que se viu confuso, manteve-se respeitoso, delicado. Um jeito de ser que é essencial às dinâmicas de reconciliação, ao protagonismo corajoso e forte na construção de uma trajetória.

José, sublinha a carta apostólica do Papa Francisco, é um pai com coragem criativa, abrindo espaço no seu íntimo até mesmo para aquilo que não escolheu, atento às intervenções de Deus por meio de pessoas e acontecimentos, enfrentando um mundo que parece estar à mercê de fortes e poderosos.

E na consideração das muitas lições da paternidade de José, a figura de pai trabalhador, iluminadora neste tempo em que tantos homens são excluídos do direito ao trabalho digno. São José, com seu exemplo, interpela o mundo contemporâneo a promover, sempre mais, o direito ao trabalho, um desafio social.

A figura de José ilumine a gratidão aos pais, e seja uma oração-apelo pela qualificação da paternidade. O mundo precisa do coração de pai.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/coracao-de-pai/

22 de agosto de 2025

Nosso amor a Maria, Mãe e Rainha

A realeza materna de Maria

A Igreja celebra, hoje, a realeza de Maria: temos uma Mãe que é Rainha! Na instituição dessa festa, o Papa Pio XII escreve que, "desde os primeiros séculos da Igreja católica, o povo cristão elevou orações e cânticos de louvor e de devoção a Rainha do céu, tanto nos momentos de alegria como quando se via ameaçado por graves perigos, e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo"1. Ele ensina que Maria exerce seu reinado no universo inteiro "com  coração materno".

Créditos: cancaonova.com

Leia aqui: o fundamento bíblico da realeza de Maria

https://santuario.cancaonova.com/artigos-religiosos/maria-rainha-na-visao-da-biblia/

Ela é nossa Mãe, somos filhos da Rainha, pois, pelo batismo, somos incorporados a Cristo, o Rei do Universo, e nos tornamos membros da realeza divina. Temos muitos motivos para cultivar uma alta consciência de valor próprio e educar a nós mesmos, para sermos autênticos portadores dessa dignidade. 

Para o Pe. Kentenich, Fundador da Obra Internacional de Schoenstatt,  a verdadeira devoção mariana "gira sempre em torno de duas colunas básicas: vinculação a Maria e atitude mariana"2

Como você imagina que Maria agia no seu dia a dia? 

Nosso amor a Ela nos impulsiona a olhar para seu modo de ser, como espelho do que queremos nos tornar. O melhor apostolado que podemos fazer é ser Maria para os que têm contato conosco. É isso que Pe. Kentenich pede em sua oração tão conhecida:   

"Torna-nos semelhantes à tua imagem, como tu, passemos pela vida fortes e dignos, simples e bondosos, espalhando amor, paz e alegria. Em nós percorre o nosso tempo, prepara-o para Cristo"3

Nosso amor a Maria, a Mãe e Rainha, é tão autêntico quanto for o nosso empenho para praticar essas suas virtudes. Quem nos vê, deveria poder contemplar a nobreza de um filho de Rei e da Rainha: pessoas que não complicam a vida, de coração que acolhe a todos, alegres e que pacificam. Então, o mundo começa a ser transformado, a partir do pequeno espaço em que estamos.


A realeza de Maria: que ela seja a Rainha da Paz

O Papa Leão XIV diz que a Igreja precisa do coração materno de Maria, por que Ela "é o polo de atração que harmoniza as diferenças." Por isso, explica, a Igreja precisa do carisma mariano como apoio, pois "é o mariano que garante a fecundidade e a santidade."4

Este tempo tão marcado por violências, dentro e fora das famílias, precisa da realeza de Maria. Que Ela seja a Rainha da Paz pelo testemunho da vida de seus filhos. Monsenhor Jonas nos disse em sua última mensagem: "Nossas comunidades precisam de amor… esse amor é suado, custa, mas é possível amar". Esse precioso legado nos impele a nunca nos acomodarmos, mas a suplicar ao Espírito Santo que incendeie o nosso coração como fez com o de Maria.

Rezemos nessa intenção: Salve Rainha, Mãe de Misericórdia…

Ir. Maria Nilza
Irmã de Maria de Schoenstatt

1 – https://www.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_11101954_ad-caeli-reginam.html
2-  KENTENICH, José. Diretrizes do Fundador, p. 31.
3- KENTENICH, José, Rumo ao Céu, n. 609.
4- https://www.vatican.va/content/leo-xiv/pt/homilies/2025/documents/20250609-omelia-giubileo-santa-sede.html


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nosso-amor-a-maria-mae-e-rainha/

20 de agosto de 2025

O desafio de viver em família

A família é, realmente, uma comunidade de pessoas em que o modo próprio de existir e viver junta é a comunhão de pessoas. Também sempre ressalvando a absoluta transcendência do Criador relativamente à criatura, emerge a referência exemplar ao Nós divino. Somente as pessoas são capazes de viver em comunhão, e a família tem início na comunhão conjugal que o Concílio Vaticano II classifica como aliança, na qual o homem e a mulher dão-se mutuamente e recebem um ao outro (…).

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Foto ilustrativa: kali9 by Getty Images

Na família assim constituída manifesta-se uma nova unidade em que encontra pleno cumprimento a relação de comunhão dos pais. A experiência ensina que esse cumprimento representa, no entanto, uma tarefa e um desafio. A tarefa empenha os cônjuges na atuação da sua aliança originária.

Os filhos, por eles gerados, deveriam – está aqui o desafio – consolidar tal aliança, enriquecendo e arraigando a comunhão conjugal do pai e da mãe. Quando tal não sucede, pode perguntar-se se o egoísmo que se esconde por causa da inclinação humana para o mal, inclusive no amor do homem e da mulher, não seja mais forte do que esse amor. É preciso que os esposos estejam bem cientes disso.

É necessário que, desde o princípio, eles tenham os corações e pensamentos voltados para aquele Deus em que toda a paternidade toma o nome, a fim de que a paternidade e a maternidade tirem daquela fonte a força de se renovar continuamente no amor.

Paternidade e maternidade

Paternidade e maternidade representam, em si mesmos, uma particular confirmação do amor, em que extensão e profundidade originais permitem descobri-la. Isso, porém, não acontece automaticamente. É, antes, um dever confiado a ambos: ao marido e à esposa. Na vida deles, a paternidade e a maternidade constituem uma novidade e uma riqueza tão sublime que, apenas de joelhos, é possível abeirar-se delas.

A experiência ensina que o amor humano, por sua natureza orientado para a paternidade e a maternidade, às vezes, é afetado por uma profunda crise que o deixa seriamente ameaçado. Há de levar em consideração, nesses casos, o recurso aos serviços oferecidos pelos consultórios matrimoniais e familiares, mediante os quais é possível valer-se, entre outras coisas, da ajuda de psicólogos e psicoterapeutas especificamente preparados. Não se pode esquecer, todavia, que continuam sempre válidas as palavras do Apóstolo: "Dobro os joelhos diante do Pai, do Qual toda a paternidade, nos Céus como na Terra, toma o nome". O matrimônio sacramento é uma aliança de pessoas no amor.


E o amor pode ser aprofundado e guardado apenas pelo Amor, aquele Amor que é "derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi concedido" (Rom 5, 5). A oração não deveria concentrar-se sobre o ponto crucial e decisivo da passagem do amor conjugal à geração e, por isso, à paternidade e maternidade? Então, não é precisamente que se torna indispensável a efusão da graça do Espírito Santo, invocada na celebração litúrgica do sacramento do matrimônio?

O apóstolo, dobrando os joelhos diante do Pai, implora-Lhe que "vos conceda (…) que sejais poderosamente fortalecidos pelo seu Espírito quanto ao crescimento do homem interior" (Ef 3, 16). Essa força do homem interior é necessária na vida familiar, especialmente nos seus momentos críticos, ou seja, quando o amor, que no rito litúrgico do consentimento conjugal foi expresso pelas palavras: "Prometo ser-te fiel, (…) por toda a nossa vida", é chamado a superar um difícil exame.

(Trecho da Carta de João Paulo II às famílias – 1994)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/o-desafio-de-viver-em-familia/

19 de agosto de 2025

Família, projeto de Deus para a felicidade

Uma conhecida música da MPB (Música Popular Brasileira) diz que "é impossível ser feliz sozinho". Entendendo que esse "sozinho" é a ausência completa de contatos humanos, de amizades, de relacionamentos, ou seja, de vida entre seres humanos, ela está correta.

Levando a reflexão para o campo da Teologia, encontramos justificativas bem pertinentes: primeiro, Deus é único em Sua divindade, mas comporta três pessoas que vivem em estreita relação de amor. Podemos dizer que parte da essência de Deus é manter-se num relacionamento estreito e indivisível constantemente. Deus é único, mas não é solitário, não é "feliz sozinho".

E por que isso? Porque Ele é uma relação de amor, ou melhor, "Deus é Amor" (1Jo 4,8). O amor é naturalmente envolvente e expansivo, é a segunda justificativa. Possui a maior força de coesão que existe, fortalece e torna os laços indissolúveis e, ao mesmo tempo, carrega em si uma capacidade imensa de doação, de ser expansivo, de querer se espalhar.

Santo Tomás de Aquino ensina que Deus, em Sua imensa bondade, quis estabelecer uma lei que fosse acessível a todos, não importa de que parte do planeta fosse ou qual o nível de escolaridade a que a pessoa tivesse acesso. Essa "lei" que serve para letrados e analfabetos, ricos e pobres, é a lei do Amor. Acessível a todos os homens e mulheres de boa vontade.

Familia, projeto de Deus para a felicidade

Foto Ilustrativa: Geber86 by Getty Images

Deus, que é Amor, é a fonte da família

O Amor é, portanto, um dom de Deus, porque Ele é a fonte de todo verdadeiro amor, e também é um mandamento, o novo mandamento dado por Jesus (Jo 13,34), a nova lei: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei".

Não satisfeito em simplificar a lei ao máximo, instituiu o Sacramento do Matrimônio para que essa lei pudesse ser aprendida na prática, na família. O verdadeiro mestre transforma a união carnal entre homem e mulher, conhecida por sua capacidade de geração, numa "fábrica" de amor. Não basta estar junto, é preciso exercitar o amor. Não basta viver o amor entre os cônjuges, é preciso expandi-lo gerando filhos. Não basta gerar os filhos, é preciso amá-los com amor incondicional. E, finalmente, não basta amá-los, é preciso ensinar-lhes a amar.

Com o objetivo de nos ajudar a viver tudo isso,  Papa Francisco lançou a Exortação Apostólica Amoris Laetitia ou "a alegria do Amor". E, como bom discípulo do grande Mestre, não só orientou, mas convidou-nos a vivê-la na prática neste Ano "Família Amoris Laetitia". Um ano de exercício prático do amor no seio das famílias. Porque, como já deu para entender, a família é o grande projeto de ensinamento e vivência do Amor no mundo. Um amor que precisa ser exercitado.

Claro que, quanto mais completa puder ser a família, melhor. O próprio Papa Francisco, em todo o seu pontificado, tem lembrado da importância fundamental das pessoas de mais idade, os "nossos avós" como ele mesmo se refere, na vivência familiar e social. Que amor maduro e provado, poderia dizer "bem temperado", que os avós oferecem aos netos e a toda a família! Um amor que é completa doação e nenhuma posse. Pais, filhos, avós… Que maravilha aqueles que conseguem expandir a convivência familiar com tios, primos, sobrinho! A alegria do amor em família é o grande motor da sociedade e do mundo! Os chamados "avanços científicos" não produzem os mesmos frutos.

Nossa família diz o que somos e quem somos

Aqueles que, por inúmeros motivos, não possuem mais uma família completa, não se entristeçam. Um homem sem um braço continua sendo um verdadeiro homem; e uma mulher sem uma perna não perde em nada sua dignidade. É o que fazemos com as "outras partes" do nosso corpo ou como vivemos com o restante de "nossa família", que diz verdadeiramente o que somos e quem somos. Agora, por favor, não vamos cair na armadilha de divulgar que os homens e mulheres não precisam mais de pernas e braços ou que um pai ou uma mãe em uma família é um "acessório" dispensável e supérfluo.


Amar é doar-se em sacrifício e acolhimento constantes

Por último, aqueles que realmente tem a experiência de viver em família sabem a que me refiro quando digo "amor". Para os outros, devo dizer que não falo aqui do sentimento de que tudo é lindo, tudo ocorre em perfeita harmonia o tempo todo e sempre de acordo com a minha vontade imediata. Amor não é sentimento, não é paixão, não é quando fazem a nossa vontade.

Sabemos que é verdadeiro amor e que nos amam quando existe doação (de tempo, de vontade), quando existe sacrifício, abnegação, acolhimento e apoio constante. Mesmo com broncas, mesmo com correções, mas sem desistir. Tudo isso se resume na frase: "Família é para sempre". Na prática, quer dizer que: aconteça o que acontecer, o amor irá prevalecer. Não gosto e não concordo, mas te amo! Quero (e preciso) respeitá-lo!

Se aprendermos a viver a Alegria do Amor dentro de nossas famílias, certamente construiremos, indiretamente, uma sociedade muito melhor. O que está nos faltando é este tempo de treino familiar.

Flávio Crepaldi
Flavio Crepaldi é teólogo, casado e pai de três filhas. Além do bacharelado e especialização em Teologia, possui formação em Comunicação e especialização em Gestão. É o autor dos livros "Santidade para todos: Descobrindo as Moradas Interiores" e "A Oração segundo os doutores da Igreja" nos quais, de maneira prática e descomplicada, explica o caminho espiritual pela busca da santidade e da vida de oração.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/familia-projeto-de-deus-para-a-felicidade/

18 de agosto de 2025

A família é um oásis de amor

Todos nós precisamos do amor puro uns dos outros, precisamos do amor do nosso pai; e como é importante a presença, o carinho, a segurança e a firmeza do pai, suas correções, ordens e até mesmo as zangas e broncas! Tudo isso é amor. Amor próprio de pai, necessário, imprescindível na nossa formação, essencial para o nosso crescimento, nosso equilíbrio e maturidade. Nem preciso dizer o quanto precisamos do amor de mãe, da presença e do carinho dela, da correção própria de mãe, do perdão que só a mãe sabe dar.

Todos nós precisamos do amor puro dos nossos irmãos e irmãs, da convivência, das diferenças e até mesmo das dificuldades entre irmãos e irmãs. Tudo isso faz parte do nosso crescimento, da nossa maturidade. Sem isso ficamos afetivamente imaturos.

A família é um oásis de amor

Foto ilustrativa: SanneBerg by Getty Images

A família é o nosso habitat

A família é o ambiente natural, criado por Deus para aprendermos a dar e receber amor. É aí que se aprende a amar, é aí que se aprende a recebê-lo. Precisamos aprender a receber o amor. É no ambiente caloroso de um lar, no aconchego de uma família, por mais simples e pobre que seja, que aprendemos a ser amado. Deixe-se amar. Deixe-se ser atingido por gestos de amor, de bondade, de carinho, compreensão, perdão.

Precisamos de amor puro de pai, de mãe, de irmão. Precisamos de amor puro de nossa família. Sim, a família é e precisa ser um "oásis de amor". É urgente preservar esses oásis de amor que ainda existem.

Como é bom ser família! Como é bom ter a presença de homens e mulheres, de adultos, jovens e crianças! Como é bom ter diferenças! Diferença de gênios, de temperamentos, opiniões, pontos de vista. Que bom ter de viver com o diferente!


É na família que nos conhecemos, que nos descobrimos, aproximamo-nos, corrigimos, desentendemo-nos e nos perdoamos. Na família, nem tudo é cem por cento, mas nela nos amamos, perdoamos e nos reconciliamos. E aí está o essencial: a família é um "oásis de amor'!

Texto extraído do livro "A cura da nossa afetividade e sexualidade", de Marlúcia.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/familia-e-um-oasis-de-amor/

15 de agosto de 2025

Assunção de Nossa Senhora

Maria na glória Celeste

A Sagrada Tradição da Igreja ensina que Nossa Senhora foi elevada ao céu de corpo e alma após sua morte. No entanto, as particularidades da "morte" da Virgem Maria não são conhecidas. Santo Epifânio, bispo de Salamina de Chipre, compôs, nos anos de 374-377, o livro sobre as heresias, no qual escreve: "Ou a Santa Virgem morreu e foi sepultada e seguiu-se depois sua Assunção na glória, ou, sem fim, verificou-se em plena e ilibada pureza, adornando a coroa de sua virgindade" (MS, p. 267).

Foto Ilustrativa: sedmak by Getty Images / cancaonova.com

O Dogma da Assunção da Virgem Santíssima foi proclamado, solenemente, pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950, e sua festa é celebrada no dia 15 de agosto. Grande júbilo e alegria pairou sobre todo o mundo católico naquela data, especialmente para os filhos de Maria. Quando o Papa o decretou, por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, foi uma verdadeira apoteose, tanto na Praça de São Pedro, em Roma, como nas outras cidades do mundo católico.

Nesse documento, disse o Papa: "Cristo, com Sua morte, venceu o pecado e a morte, e sobre esta e sobre aquele alcançará também vitória pelos merecimentos de Cristo quem for regenerado sobrenaturalmente pelo batismo. Mas, por lei natural, Deus não quer conceder aos justos o completo efeito dessa vitória sobre a morte, senão quando chegar o fim dos tempos.

Por isso os corpos dos justos se dissolvem depois da morte e, somente no último dia, tornarão a unir-se, cada um com sua própria alma gloriosa. Mas, desta lei geral, Deus quis excetuar a Bem-Aventurada Virgem Maria. Ela, por um privilégio todo singular, venceu o pecado; por sua Imaculada Conceição, não estando por isso sujeita à lei natural de ficar na corrupção do sepulcro, não foi preciso que esperasse até o fim do mundo para obter a ressurreição do corpo".


Imaculada Virgem Maria

Assim, na Praça de São Pedro, em Roma, diante do pórtico de São Pedro, circundado por 36 Cardeais, 555 Patriarcas, Arcebispos e Bispos e sacerdotes, e perante cerca de um milhão de fiéis, o Papa proclamava solenemente: depois de haver mais uma vez elevado a Deus nossas súplicas e invocado as luzes do Espírito Santo, a glória de Deus Onipotente, que derramou sobre a Virgem Maria.

Sua especial benevolência, em honra de Seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para maior glória de Sua augusta Mãe e para a alegria e exultação de toda a santa Igreja, e pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma de fé revelado por Deus que: a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi elevada à glória celeste em corpo e alma (MS, p. 282).

Solenidade

Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Marialis Cultus, resume a importância desse dogma numa expressão cheia de densidade: "A solenidade de 15 de agosto celebra a gloriosa Assunção de Maria ao Céu, festa de seu destino de plenitude e de bem-aventurança, glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado" (MC n.6).

Assim, Maria participa da ressurreição e glorificação de Cristo. É preciso lembrar, aqui, que somente Jesus e Maria subiram ao Céu de corpo e alma. Os santos estão lá apenas com suas almas, pois os corpos estão na terra, aguardando a ressurreição do último dia. Maria, ao contrário, foi elevada ao céu também com seu corpo já ressuscitado. É uma grande glória dela.

A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em uma Instrução de 17-05-1979, deixou bem claro: a Igreja, ao expor a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tire o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único, ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos (n. 6).

Quais os motivos da Assunção de Nossa Senhora?

1 – Como Maria não esteve sujeita ao poder do pecado para poder ser a Mãe de Deus, também não podia ficar sob o império da morte, pois, como disse São Paulo, "o salário do pecado é a morte" (Rm 6,23). Assim, Maria não experimentou a corrupção da carne, mas foi glorificada em sua alma e seu corpo.

2 – A carne de Jesus e a de Maria são a mesma carne. Portanto, a carne de Maria devia ter a mesma glória que teve a de seu Filho.

São João de Damasco, no ano 749, escreve: "Era necessário que aquela que, no parto, havia conservado ilesa sua virgindade, conservasse também sem corrupção alguma seu corpo depois da morte. Era preciso que aquela que havia trazido no seio o Criador feito menino habitasse nos tabernáculos divinos.

Era necessário que aquela que tinha visto o Filho sobre a cruz, recebendo no coração aquela espada das dores das quais fora imune ao dá-Lo à luz, O contemplasse sentado à direita do Pai. Era necessário que a Mãe de Deus possuísse aquilo que pertence ao Filho e fosse honrada por todas as criaturas como Mãe de Deus".

E assim também se exprime São Germano, patriarca de Constantinopla, falecido em 735, e outros santos (MS, pp. 272 e 273).

Festa do trânsito de Maria

A festa do Trânsito de Maria, que honrava sua morte, passou gradualmente a comemorar sua Assunção corporal ao céu. No sacramentário enviado pelo Papa Adriano I ao Imperador Carlos Magno (768-814), que introduziu o Cristianismo em todo o vasto império franco, está escrito: digna de honra é para nós, Senhor, a festividade deste dia em que a Beata Virgem Maria, a Santa Mãe de Deus, sofreu a morte temporal, mas não pôde ser retida pelos inexoráveis laços, porque ela deu à luz Seu Filho, nosso Senhor, que tomou sua carne (MS, p. 273).

No Sínodo de Mainz, no ano 813, Carlos Magno introduziu a festa da Assunção de Maria ao Céu, depois de haver obtido autorização de Roma.

Foi São Gregório de Tours, falecido em 596, o primeiro a proclamar a Assunção corpórea de Maria ao Céu. Um século mais tarde, Santo Ildefonso de Toledo afirmou: "Não devemos esquecer que muitos consideram que ela [Maria] foi, neste dia, levada corporalmente ao céu por Nosso Senhor Jesus Cristo" (MS, p. 274).

Mãe de Deus

Muitos santos perguntavam se o melhor dos filhos poderia recusar à melhor das Mães a participação em sua ressurreição e o glorioso domínio à direita do Pai? Para eles, sua dignidade de Mãe de Deus exige a Assunção.

Para Santo Irineu, do século II, como a nova Eva, Maria participou da sorte do novo Adão, Jesus Cristo, ressuscitou depois da morte, e seu corpo não experimentou a corrupção (MS, p. 277).

Como Maria não teve na alma a mancha do pecado original, ficou isenta da dura sentença dada aos demais: "Es pó e em pó hás de tornar" (Gn 3,19). A nós que herdamos o pecado original, é preciso voltar ao pó da terra de onde saímos, para que, na ressurreição do último dia, o Senhor nos refaça sem as sequelas do mal.

Glória da Assunção de Nossa Senhora

A rica Tradição da Igreja reconheceu, desde os primeiros séculos, a gloriosa Assunção de Nossa Senhora. Dela dão testemunho S. João Damasceno, São João Crisóstomo, S. Tomás de Aquino, S. Boaventura, S. Anselmo, São Bernardo e outros luminares e teólogos famosos. Além disso, a Sagrada Liturgia sempre confirmou a verdade desse dogma, tanto nos antigos missais como nos sacramentários, hinos e saudações à subida da Rainha ao Céu. Além disso, nunca, em Igreja nenhuma da Terra, venerou-se uma relíquia do corpo de Maria Santíssima, mostrando com isso uma convicção certa e inabalável de que Ela está no céu.

Contudo, a razão mais forte da Assunção de Nossa Senhora está no fato de ela ser a Mãe do Senhor. Como disse o frei Francisco de Monte Alverne: "Consentiria o meigo Jesus de Nazaré que sua morada puríssima, o céu esplêndido onde por nove meses repousaria, a estátua viva esculpida pelo próprio Criador, ficasse nessa terra de exílio? Porventura o Rei dos Exércitos esperaria o fim dos tempos para que a corte celeste prestasse homenagens reais à sua Mãe. Não, pois era mister que a humanidade reconhecesse quanto era considerada uma mãe tão extremosa" (nota 22 e Tm p. 314).

A glória da Assunção de Nossa Senhora ao Céu é, para nós que ainda vivemos neste vale de lágrimas, a certeza de que o céu existe e é nosso destino.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/assuncao-de-nossa-senhora-2/

13 de agosto de 2025

Convide Deus para participar da sua família

Existem situações que fogem do nosso controle, e devemos ter a humildade de reconhecer que não somos suficientemente fortes para contorná-las sozinhos. Necessitamos da ajuda de pessoas que estão ao nosso lado, sobretudo de Deus. No fundo, vemos que a maioria dos conflitos presentes na sociedade acaba tendo quase uma única causa: a desestrutura da família.

Em nossos dias, vemos um bombardeio de experiências negativas, que influem no relacionamento familiar, dando a entender que a instituição familiar, a fidelidade, o companheirismo e a educação são coisas do passado, que não têm mais sentido neste terceiro milênio. Porém, o amor, a entrega, os sonhos de um casal apaixonado são os mesmos de 50 anos atrás, pois cada casal que se apresenta diante do altar, buscando o Sacramento do Matrimônio ao menos naquele instante, nutre, em seu coração, um forte desejo de constituir uma família duradoura "até que a morte os separe".

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Chat GPT.

Talvez, o fato de esses objetivos não perdurarem, é porque, hoje, a sociedade já não mais valoriza a renúncia, a entrega. E assim, uma forte barreira vai se firmando entre os cônjuges, então, acontece um esfriamento e não o desaparecimento do amor. Na verdade, o amor nunca se acaba. Pode acontecer que ele fique ofuscado pelas dificuldades, daí, a necessidade de se fazer purificações. O sol nunca deixa de existir, mesmo em dias nublados. O amor, mesmo em tempos de dificuldades, existe, mas é preciso saber reconhecê-lo, isto é, saber afastar as dificuldades por meio do diálogo e do perdão, para que ele seja manifesto novamente.

Amor e respeito pela família

Talvez, um dos caminhos para retomarmos o amor e o respeito nas famílias seja a recuperação da figura dos pais. É triste quando encontramos famílias que entregam a educação de seus filhos às domésticas ou babás. Não que estas não sejam qualificadas para darem a educação correta, mas porque os pais acabam se tornando um ser desconhecido para seus filhos. E os mesmos não conseguem assimilar uma formação adequada, pois a empregada, hoje, está com eles, mas amanhã poderá ser substituída. Assim, a criança vai crescendo com este paradigma: "Se esta não responde mais com algumas necessidades, faço a substituição".

Assim, o sentido de renúncia e de superação de alguns limites é descurado, pois não há uma exigência para vencer as dificuldades, mas simplesmente as substituir. Desse modo, se nos enveredarmos por esse caminho, poderemos perceber que alguns matrimônios não perduram, pois esse espírito de substituição se tornou tão "normal", que é mais fácil eu deixar de viver com meu esposo, minha esposa, do que aprender a conviver com as suas limitações.

Talvez, haja a necessidade de que cada cristão repense o seu modo de conceber o Sacramento do Matrimônio e a estrutura familiar. É triste perceber que, em grande parte dos matrimônios realizados em nossas paróquias, o essencial não é a bênção de Deus, pois se supervaloriza a roupa, a maquiagem, o traje, mas pouca importância tem a Palavra de Deus anunciada.


O nascimento da família

A ostentação, em determinadas celebrações de matrimônio, demonstra que Deus não foi convidado para o momento essencial do nascimento da família. Atrasos abusivos pretendem encher de glamour o evento, mas o que faz é apenas ressaltar o descaso com o Sacramento que se diz querer receber. Portanto, para muitos, a família já surge enferma, pois o essencial não foi ressaltado. Posso testemunhar que, em determinadas celebrações, o mais importante era fazer poses para fotos do que a própria Palavra de Deus.

Ao lado de tanta ostentação, no entanto, é possível encontrar um ou outro casal que esteja, verdadeiramente, preocupado em receber a bênção de Deus, e procura fazer de seu matrimônio um momento privilegiado de encontro com Ele. Estes que assim procedem podem ter a firme esperança de que sempre estarão vivendo sob o olhar de Deus e, mesmo passando por dificuldades na vida matrimonial, encontrarão forças n'Ele para superá-las. Porém, aqueles que colocam, em primeiro lugar, o glamour da celebração, não terão forças para superar as dificuldades; não porque Deus os abandonará, mas porque não saberão os reconhecer.

Padre Reginaldo Lima 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/convide-deus-para-participar-da-sua-familia/

12 de agosto de 2025

Juventude e radicalidade

Missão jovem

Radicalidade significa ir até a raiz de algo (do latim radix, que significa raiz). No contexto cristão e vocacional, ser radical não é ser extremo ou intolerante, mas sim viver com coerência total aquilo em que se acredita. Quando, em Mt 16,24, Jesus faz a proposta: "Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo", Ele diz de um seguimento acompanhado de uma renúncia, de um preço. Seguir a Cristo precisa nos custar algo, pois aquilo que vem fácil vai fácil.

Crédito: piola666/ Getty Images

Na geração presente em que vivemos, o jovem precisa viver um despertar radical de propósitos em Deus, precisa ser confrontado pela verdade de Cristo a ponto de se indagar e se deixar perpassar por ela.

Deus realiza grandes revoluções

É próprio do jovem ser um inconformado, muitas vezes com o mundo, com suas realidades sociais, estruturais, culturais. Ele traz em si um potencial de mudança e revolução muito forte, não é atoa que um dia foi dito pelo Monsenhor Jonas Abib, "comece com os jovens, que é mais fácil", não fácil pelo fato do jovem ser bobo, mais sim por abraçar as propostas com radicalidade e firmeza. Quando o desejo de mudança se aloja no coração de um jovem, um ideal é estabelecido, pois um ideal fora de Deus pode culminar em grandes revoltas, mas, quando vividos, Deus realiza grandes revoluções. 

No ímpeto santo de sua juventude, o coração do jovem não se contenta com meias respostas, meias ideias ou meias verdades; para ele, a vida e suas propostas precisam fazer sentido. Nunca será "não pecar por não pecar", sempre precisará de um ideal maior, um ideal tão grande que o leve a dar a vida por isso, como já nos dizia Bento XVI: "O presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho."(SPE SALVI,1)

Ou Santos ou Nada!

Na ocasião em que nosso pai fundador, Monsenhor Jonas Abib, proclamou "Ou Santos ou Nada!", ele mal poderia imaginar o sentido profundo que isso causaria nas gerações futuras, em um tempo onde tudo é subjetivo, onde as propostas de vida até mesmo em Deus trazem por muitos um viés secularizado, o Santos ou Nada, deixa de ser um uma frase de efeito e se torna um estilo de vida.


Diante de um mundo que abraça um estilo de vida semelhante ao nada, sem expectativas de transcender o agora, sem um olhar voltado para o Eterno, como disse São Paulo aos Efésios, "sem Deus e sem esperança" (Ef 2,12), só uma proposta radical acompanhada de uma renovação de mentalidade pode levar o jovem a ter a santidade como uma meta de vida, não uma meta subjetiva ou ilusória, mas uma meta que já começa a se construir no agora, com passos curtos, mas concretos.

Por fim, aquilo que era um desafio se torna um estilo de vida, que, uma vez impregnado e assumido, levará esse mesmo jovem a repetir as palavras ditas por São Pedro: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo, 6,68).

 

Carlos Henrique (Rick)
Membro do Núcleo da Comunidade Canção Nova – Atua no Núcleo Jovem da Canção Nova e é Apresentador na TVCN do Programa Revolução Jesus.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/juventude-e-radicalidade/

11 de agosto de 2025

O matrimônio como expressão da doação de Cristo na cruz

Christianus alter Christus! Essa antiga expressão da Igreja significa que o "cristão é outro Cristo". Esse mistério de configuração se dá por uma especial participação na vida de Jesus de que o sacramento do batismo nos confere. O Catecismo da Igreja Católica elucida isso quando ensina que "a graça é uma participação na vida de Deus, introduz-nos na intimidade da vida trinitária: pelo Batismo, o cristão participa na graça de Cristo, cabeça do seu corpo" (n. 1997). Ainda no Catecismo, percebe-se a profundidade e a beleza desse mistério de participação do Ser de Cristo quando se lê:  "Tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n'Ele e Ele vivê-lo em nós. Pela sua Encarnação, o Filho de Deus uniu-Se, de certo modo, a cada homem. Nós somos chamados a ser um só com Ele; Ele faz-nos comungar, enquanto membros do seu corpo, em tudo o que Ele próprio viveu na sua carne por nós, e como nosso modelo" (n. 521).
O caminho de santidade no matrimônio

Créditos: nortonrsx by GettyImages / cancaonova.com

O matrimônio e a participação na vida de Deus

Ora, um grande fruto dessa participação na vida de Deus é a reprodução ou expressão de seu mistério no mundo. Em outras palavras, isso significa que, quando estamos imersos no mistério de Deus, nos tornamos sinal e expressão desse mistério no mundo. Por isso o Papa Francisco exclamou: "Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida" (Gaudete et exsultate, n.24).

Sendo assim, pensemos qual é a Palavra e o mistério da vida de Jesus que aqueles que vivem a vocação ao matrimônio são chamados a reproduzir. São João Paulo II, na exortação apostólica Familiaris Consorti, nos ajuda a intuir esse mistério quando diz: "Os esposos são, portanto, para a Igreja o chamamento permanente daquilo que aconteceu sobre a Cruz […].  Deste acontecimento de salvação, o matrimônio, como cada sacramento, é memorial, atualização e profecia" (n. 13).

Dessa forma, o matrimônio, marcado pela definitiva e constante entrega dos esposos, é sinal daquela entrega que Jesus faz de Si pela e para a Igreja. Por isso o Apóstolo Paulo dá uma medida específica do amor matrimonial quando ordena: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Ef 5,25).


O matrimônio traduzido em atitudes concretas

Portanto, enquanto sinal da entrega de Jesus, o matrimônio pressupõe uma forma peculiar de participação em sua Páscoa. Isso deve se traduzir em atitudes concretas que, por si só, serão sinal eloquente da entrega de amor que Jesus ofertou à humanidade.

Por fim, vale lembrar de algumas dessas atitudes com as palavras do teólogo Walter Kasper: "Quando se contempla o amor matrimonial sob o signo pascal da cruz, aí então se começa a viver da doação, do perdão, a partir de inícios constantemente renovados… E assim como Cristo ama sua Igreja, embora como Igreja de pecadores, e como tal a purifica e santifica, da mesma maneira os cônjuges deverão aceitar-se mutuamente em todos os conflitos, deficiências e culpabilidades que aparecem no dia a dia."

Wilker Henrique Costa Fiuza
Membro da Comunidade Canção Nova desde 2008. Mestre em Teologia Sistemática (2023). Formado em Filosofia (2011). Professor na Faculdade Canção Nova (www.fcn.edu.br). Casado e pai de dois filhos.

Referências:
KASPER, Walter. Teologia do matrimônio Cristão. São Paulo SP: edições paulinas, 1993.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/o-matrimonio-como-expressao-da-doacao-de-cristo-na-cruz/

10 de agosto de 2025

Carta aberta aos portadores do dom da paternidade

Uma esperança na impossibilidade

Vejam, os filhos são um dom de Deus, é uma recompensa o fruto das entranhas (Sl 127, 3). Todo filho é um dom de Deus, e cada história traz em si a beleza da unicidade, da iniciativa de Deus. Por mais difícil que seja a minha e a sua história, é inegável: houve um desígnio criador, um gesto de amor de um Deus que pensou em mim e em você, que me quis e quis você, independentemente da dor ou do louvor que habita a minha e a sua gestação. Há uma iniciativa amorosa de um Pai que nos quis e, por isso, somos um dom de Deus.

Ser pai, Vocação de proteção

Foto Ilustrativa: Brenda Sangi Arruda by GettyImages / cancaonova.com

E é assim que eu volto ao ano de 2022, ano da graça extraordinária de Deus em minha vida e na de minha esposa, ano em que fomos visitados por este desígnio de amor de que falava há pouco. Existe uma história não contada, de uma multidão de homens e mulheres que esperam a fiel manifestação de Deus não em suas potências, mas em sua incapacidade, sua impossibilidade de gerar.

No ano em questão, casados há cinco anos, vivíamos um luto silencioso. O luto pelos filhos que nunca havíamos gerado. Após tantas e tantas consultas, com tantos médicos, os diagnósticos, nem um pouco animadores, cada vez mais arrastavam-nos à certeza de que não poderíamos gerar filhos.

Reserva ovariana baixa e espermogramas praticamente zerados eram apenas alguns dos problemas que nos rodeavam. A cada novo problema diagnosticado, ocultava-se, cada vez mais, as esperanças daquela promessa feita no altar, de receber com amor os filhos que Deus nos confiaria. 

Os filhos são um dom

Quando tudo parecia conduzir-nos a uma direção que não esperávamos, às vezes sem força, nos lançamos naquela correnteza, desfalecidos seguindo qual rio para o seu destino. Foi nesse turbilhão, sem forças para nadar, quase afogado, que fui resgatado. A conversa gentil de uma amiga com minha esposa, questionando-a se ela não havia entendido que receber os filhos que Deus queria nos dar incluía a possibilidade de nenhum filho, tocou forte em meu coração. Eu estava tão apegado à ideia de que, obviamente, eu seria pai, que não podia conceber o contrário. Eu achei que era meu direito, esqueci-me de que os filhos são um dom. 


E foi assim que, naquele início de ano, pedi ajuda d'Ele! Pedi que me ajudasse a superar o desejo de ser pai por meios naturais. Pedi que me ajudasse a entender e aceitar que, diante dos exames e diagnósticos, aquele não era o caminho natural para mim. Pedi que Deus tirasse o desejo de ser pai por meios naturais e, quem sabe assim, se Ele permitisse, que eu me abrisse para a adoção.

Sem saber, eu pedia para que Ele me ensinasse novamente que não era um direito meu, mas um dom. E Deus inclinou-se para mim… "este infeliz gritou a Deus e foi ouvido" (Sl 33,2). De fato, não foi "natural" o que experimentamos, mas uma intervenção poderosa de Deus. E concebemos… rimos e choramos de felicidade. Nosso milagre fará três anos no próximo mês de setembro. 

A graça de reconciliar-se com Deus

Não quero ser imprudente nem enganoso. Experimentamos a dor de não poder gerar por anos, e sei que nem todos que passam pelo que passamos conceberão. Talvez você pense que é fácil para mim contar esta história depois de ter experimentado um milagre, mas eu quero que você saiba que eu entendo a sua dor. Talvez a sua dor não seja não poder gerar, mas os desvios de um filho ou até mesmo o seu sentimento de improdutividade e estagnação.

Os anos em que vivemos a expectativa da gravidez, foram anos de uma dor silenciosa e sem nome. Dor que só entendi quando o nosso milagre nos alcançou. Sei o quanto doem as cobranças familiares pelos filhos, as brincadeiras dos amigos ou a simples participação em um chá de fraldas, o peso dos anos que passam enquanto teimamos em apenas sobreviver.

Talvez o maior milagre que eu tenha experimentado tenha sido esse, entender e aceitar que havia dor, entender que precisava sair daquela situação de morte para a VIDA, e é essa graça que eu peço sobre você no dia de hoje. A graça de reconciliar-se com Deus, com sua história, com sua condição, e voltar à vida, deixando o sepulcro do escondimento, da amargura e do isolamento. 

Tempo de espera

O que aprendi com este tempo de espera e com o milagre que alcançamos é que toda vida é um dom extraordinário de Deus. Que, como pai, (por um desígnio amoroso de Deus, como todo pai) não sou dono do meu filho, e por isso preciso educá-lo para Deus, como um professor que ensina as crianças para os pais. Aprendi que a paternidade que faz parte de mim eu preciso levar para o meu próximo, não o retendo para mim, mas devolvendo-o para si, e assim devolvendo-o para Deus. Essa paternidade que já existia em mim, Deus precisou cavar fundo para trazê-la para fora. Talvez em você, caro amigo, ela não esteja tão escondida. 

A vida que se pode ofertar dia a dia

Quer você tenha filhos ou não. Neste Dia dos Pais, quero que saiba que há um povo carente de pai, da firmeza que corrige, da ternura que acolhe e dá segurança, da paternidade que existe em você, HOMEM. Enquanto os mais novos chegam com muita energia e vida nos nossos trabalhos e nas nossas comunidades, eles precisam encontrar em mim e você a sabedoria provada e experimentada na vida. A sabedoria de quem superou a dor sem culpar a Deus, a resiliência de quem suportou a aspereza do caminho e permaneceu.

A perenidade silenciosa e, ao mesmo tempo, escandalosa de uma vida que só um pai pode ofertar, porque ser pai não é sobre gerar biologicamente um filho, mas sobre a vida que se pode ofertar dia a dia, para que esse ser que recebe tenha vida. 

Rogo a Deus, o nosso Pai e doador de nossa vida, que saibamos, a Seu exemplo, ser pais, doadores de vida por onde passarmos e a quem encontrarmos. Doadores da vida verdadeira que só se alcança plenamente no céu, Amém!

 

Rafael Oliveira
Missionário da Comunidade Canção Nova no modo de compromisso "Núcleo" desde janeiro de 2010. Natural de Brasília, casado e pai de um pequeno milagre. Formado em Ciências da Computação, Especialista em Gestão de Projetos e Data Science e Analytics.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/paternidade/carta-aberta-aos-portadores-do-dom-da-paternidade/